1 – Dose para elefantesO que acontece se você der LSD a um elefante? Pesquisadores solucionaram esse mistério no dia 3 de agosto de 1962, quando Warren Thomas, diretor do zoológico Lincoln Park, em Oklahoma, disparou uma seringa contendo 297 miligramas de LSD no traseiro de Tusko, o elefante. Com Thomas estavam dois colegas da Universidade de Medicina de Oklahoma, Louis Jolyon West e Chester M. Pierce.
A dose era 3 mil vezes maior do que um humano tomaria. Thomas, West e Pierce imaginaram que, se fossem dar LSD a um elefante, era melhor não dar muito pouco. Eles mais tarde explicaram que o experimento foi desenvolvido para descobrir se o LSD induziria o “musth”, uma espécie de loucura temporária que afeta os elefantes machos, tornando-os altamente agressivos e fazendo com que soltem um fluido grudento de suas glândulas temporais. Alguém deve suspeitar que uma dose de curiosidade detestável estava envolvida.
Qualquer que tenha sido a razão para o experimento, tudo deu errado quase imediatamente. Tucko reagiu como se tivesse levado um tiro. Ele trombeteou em volta de seu cercado por uns poucos minutos e tombou. Horrorizados, os pesquisadores tentaram reanimá-lo com uma variedade de antipsicóticos, mas por volta de uma hora mais tarde ele estava morto. Em um artigo publicado quatro meses após o evento (na revista “Science”, vol. 138, pág. 1.100), os três cientistas concluíram acanhadamente: “Parece que elefantes são altamente sensíveis aos efeitos do LSD”.
O experimento gerou manchetes instantaneamente em vários cantos do mundo. Expostos a um desastre em relações públicas, os cientistas protestaram por sua inocência. Eles insistiram que não haviam previsto que o elefante morreria. Na experiência deles, LSD era um alucinógeno poderoso, mas raramente fatal. West e Pierce, para ajudar, declararam eles mesmos já terem tomado a droga.
Thomas tentou ver uma saída que ele imaginava ser uma luz no fim do túnel. Eles haviam aprendido que o LSD pode ser fatal para elefantes. Então talvez, ele pensou, a droga poderia ser usada para destruir grupos de elefantes, em países onde eles são um problema. Por algum motivo, ele nunca encontrou alguém que comprasse sua idéia.
2 – Cachorro bipoçar
Em 1954, o cirurgião soviético Vladimir Demikhov chocou o mundo revelando uma monstruosidade criada cirurgicamente, um cachorro com duas cabeças. Ele desenvolveu a criatura em um laboratório do Instituto de Cirurgia de Moscou, enxertando cabeça, ombros e pernas frontais de um filhote no pescoço de um pastor alemão já crescido.
Demikhov convidou repórteres de todo o mundo para testemunhar sua criação. Os jornalistas engasgaram quando as duas cabeças lamberam simultaneamente uma tigela de leite, e aí se encolheram quando o leite da cabeça do filhote vazou do tronco desconectado do tubo esofágico. O filhote recebia todos os nutrientes do sistema circulatório do cachorro mais velho, mas gostava de beber porque sua boca ficava seca.
Observou-se como as duas cabeças compartilhavam experiências sensoriais. Quando uma cabeça queria comer, a outra também queria. Quando ficava quente, ambas ofegavam. Se uma bocejava, a outra idem. Mesmo assim, nem todas as suas emoções eram idênticas. O cachorro mais velho ficou incomodado em ter outra cabeça presa a seu pescoço e, ocasionalmente, chacoalhava tentando se livrar dela. Isso estimulou o filhote à retaliação. Ele mordia a orelha de seu grande companheiro.
O cachorro de Demikhov viveu por apenas seis dias, mas em 15 anos o cientista“construiu”mais 19 deles. O recorde foi de um mês de sobrevivência. Demikhov freqüentemente comentava que os cachorros morriam por causa de imperfeições em sua técnica cirúrgica, ignorando ingenuamente o processo de rejeição de tecidos.
Demikhov justificou suas atividades como experiências que levariam ao aprendizado de como transplantar um coração humano. Christiaan Barnard, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, o ultrapassou nesse objetivo em dezembro de 1967, mas Demikhov é aclamado por abrir as trilhas.
3 - Tá na cara
As emoções evocam expressões faciais características? Há uma expressão usada por todos para demonstrar um choque, outra para nojo, e por aí vai? Em 1924, Carney Landis, estudante de psicologia da Universidade de Minnesota, tentou descobrir.
Landis expôs voluntários a vários estímulos, como cheirar amônia, ouvir jazz, olhar fotos pornográficas e colocar as mãos em um balde cheio de sapos. Durante o processo, o estudante fotografou cada reação.
O clímax foi pedir que decapitassem um rato vivo. A maioria resistiu e questionou a seriedade da ordem. Landis assegurou que sim. As pessoas então pegavam a faca de modo hesitante e depois a devolviam. Muitos dos homens falaram palavrões. Algumas mulheres choraram. Mas Landis os encorajou a continuar. Nas fotos que tirou, nós os vemos revoltados.
Dois terços das pessoas fizeram o que lhes foi pedido. Mesmo quando alguém recusava, o rato não era salvo. Landis simplesmente decapitava o roedor ele mesmo (“Diário da Psicologia Comparativa”, vol. 4, pág. 447).
O experimento de Landis apresentou uma amostra incrível da disposição das pessoas em obedecer a ordens, não importando o quão desagradáveis elas possam ser.
4 – Tudo na cabeça
Ao pesquisar o comportamento sexual de perus, Martin Schein e Edgar Hale, da Universidade Estadual da Pensilvânia, descobriram que os machos dessa espécie não são nada exigentes. Quando confrontados com um modelo idêntico ao de uma fêmea, os pássaros se acasalaram tão avidamente quanto se fossem reais.
Intrigados, embarcaram em experiências para determinar o mínimo de estímulo necessário para excitar um peru macho. Isso envolveu a remoção de partes do modelo, uma por uma, até o macho perder o interesse.
Rabo, pés e asas, Schein e Hale removeram tudo, mas o pássaro sem noção continuava a chacoalhar o modelo. Finalmente, sobrou apenas uma cabeça em um pedaço de pau. E o macho continuava animado. Quando um peru monta em uma fêmea, ele é tão maior que a cobre completamente, exceto por sua cabeça. Logo, eles sugeriram, é essa parte do corpo que serve de foco para a atenção erótica.
Então investigaram qual o tamanho mínimo de cabeça para manter o interesse do peru. Notaram que isso pouco importa, desde que a cabeça fosse bem-feita. Depois, em ordem de preferência, o macho se interessou por uma cabeça velha de outro macho, seguida por uma de fêmea, de dois anos, “sem cor, murcha e seca”. O último lugar ficou para a cabeça de madeira, sem nada. Mas mesmo essa provocou uma resposta sexual. Eles publicaram os resultados no livro “Sexo e Comportamento”, em 1965.
Antes de nós espiarmos as predileções sexuais dos perus, devemos nos lembrar de que nossa espécie fica no topo da pirâmide bestial da perversão. O caso em questão é o de Thomas Granger, o adolescente que em 1642 se tornou a primeira pessoa a ser executada na puritana Nova Inglaterra. Seu crime? Ele transou com um peru.
5 – Combate a roedores
No verão de 1942, Lawrence LeShan, da faculdade de William & Mary, na Virginia, ficou na escuridão de um chalé, em um acampamento ao norte do estado de Nova York, onde uma fileira de garotos estava dormindo. Ele entoou uma frase repetidamente: “As minhas unhas têm um gosto muito amargo”. Quem visse a cena pensaria que LeShan tinha ficado maluco. Mas o professor estava conduzindo um experimento sobre aprender dormindo.
Todos os garotos eram roedores de unha crônicos, e Leshan queria descobrir se a exposição noturna a uma sugestão negativa poderia curá-los. Depois de um mês usando uma vitrola para repetir a frase 300 vezes enquanto os garotos dormiam, uma enfermeira discretamente checou as unhas durante um exame médico de rotina. Um menino parecia ter largado o hábito.
Após 5 semanas, a vitrola quebrou. Temendo ter que abandonar a experiência, LeShan passou a repetir a frase ele mesmo. Surpreendentemente, a sugestão direta teve um efeito maior. Em duas semanas, mais sete garotos tinham unhas sadias. LeShan especulou se isso era por sua voz ser mais clara do que o som da vitrola. Outra possibilidade: seus sussurros assustaram as crianças, e elas obedeceram.
Ao fim daquele verão, 40% dos meninos tinham largado o hábito. LeShan concluiu que o efeito do aprendizado durante o sono parecia ser real. (“Diário da Psicologia Anormal e Social”, vol. 37, pág. 406). Mais tarde, outros pesquisadores contestaram isso.
6 – Doente do pé
Em 1933, Clarence Leuba, um professor de psicologia da Universidade de Antioch, Ohio, preparou sua casa para um grande experimento. Ele planejou descobrir se a gargalhada é uma resposta aprendida por causa de cócegas ou se é uma resposta inata.
Para conseguir seu intento, ele determinou nunca permitir que seu filho recém-nascido associasse risadas a cócegas. Isso significava que ninguém, especialmente sua mulher, podia rir na presença da criança enquanto fizesse ou recebesse cócegas. Leuba planejou observar se seu filho iria rir, eventualmente, quando tivesse cócegas, ou iria crescer enfrentando dedos chacoalhando debaixo de seus braços em um silêncio absoluto.
De alguma forma Leuba convenceu sua mulher a cooperar, e dessa forma a casa de Leuba se transformou em uma área livre de cócegas, exceto durante as sessões experimentais nas quais Leuba submetia R.L. Male, como ele se referia ao filho em suas anotações, a muitas cócegas sem risadas.
Durante essas sessões, Leuba seguia uma linha de procedimento rígida. Primeiro ele colocava uma máscara de papelão, de 30 por 40 centímetros, como mais uma precaução para manter, por trás dela, a “expressão sóbria, sem sorrisos”. Aí ele fazia cócegas em seu filho em um padrão determinado: primeiro fraca, depois forte. Havia também uma ordem: debaixo dos braços, costelas, queixo, pescoço, joelhos e por fim os pés.
Tudo ia bem até 23 de abril de 1933, quando Leuba registrou uma confissão de sua mulher. Em uma ocasião, depois de seu filho tomar banho, ela “sacudiu o bebê para cima e para baixo enquanto sorria e dizia: ‘Pula, pula’”. Não está claro se isso foi o suficiente para arruinar o experimento. O que ficou claro é que a partir do sétimo mês R.L. Male ficava gritando alegremente quando recebia cócegas.
Sem desistir, Leuba repetiu a experiência depois que sua filha, E.L. Female, nasceu em fevereiro de 1936. Ele obteve o mesmo resultado. Por volta dos sete meses, sua filha sorria quando recebia cócegas (“Diário da Psicologia Genética”, vol. 58, pág. 201).
Leuba concluiu que a risada deve ser uma reação inata quando se trata de cócegas. Entretanto, dá para sentir uma hesitação em sua conclusão, como se ele sentisse que tudo poderia ter sido diferente se sua mulher tivesse seguido as regras cuidadosamente.
O estudo sobre cócegas de Leuba pelo menos oferece um objeto de estudo para outros pesquisadores. Em qualquer experimento é impossível controlar todas as variantes, especialmente quando uma delas é sua esposa.
7 – Seguro tardio
Um dia, no começo dos anos 1960, dez soldados embarcaram em um avião no forte Hunter Ligget, uma base militar na Califórnia, para uma missão de treinamento. O avião viajou por poucos minutos antes de guinar para um lado enquanto a hélice falhava.
O piloto lutava com os controles e gritava freneticamente. Finalmente, anunciou: “É uma emergência. Um motor apagou, e o sistema de pouso não está funcionando. Eu vou tentar mergulhar no oceano. Preparem-se”. Em uma situação dessas, seria natural que os soldados sentissem pavor. Mas, apesar de não saberem, eles não estavam em perigo. Eram parte de um estudo da Unidade de Pesquisa de Liderança Humana do Exército dos EUA, em Monterey, Califórnia. O seu propósito era examinar a degradação comportamental sob estresse psicológico, especificamente o provocado pela iminência da morte.
Com o pânico estabelecido, os pesquisadores então introduziram uma tarefa para medir o desempenho dos soldados em outra atividade: preencher apólices de seguro. O exército queria ter certeza de que as perdas seriam cobertas em caso de morte. Os soldados acharam os formulários inesperadamente difíceis de decifrar. O último deles completou a tarefa, e todos se prepararam para o impacto. Naquele ponto, o piloto virou o avião e disse: “Apenas uma brincadeira sobre a emergência, pessoal!”. Sem surpresa, a antecipação de um acidente interferiu na habilidade de preencher precisamente uma apólice. Os soldados no avião cometeram um número significativo de erros comparado ao grupo de controle, que estava em solo seguro e que preencheu a mesma papelada. (Monografia Psicológica, Geral e Aplicada, vol. 76/01).
8 – Cães zumbis
Robert E. Cornish, um pesquisador da Universidade de Berkeley, na Califórnia, durante os anos de 1930, acreditava que havia descoberto uma maneira de trazer os mortos de volta à vida, pelo menos nos casos em que não havia danos em um órgão de maior importância.
Sua técnica envolvia balançar os corpos, para baixo e para cima, como em uma gangorra, para o sangue circular, enquanto injetava uma mistura de adrenalina e anticoagulantes. Ele testou seu método em uma série de cachorros da raça fox terrier. Ele deu a todos eles o mesmo nome, Lázaro, em homenagem ao personagem bíblico que foi trazido de volta à vida por Jesus.
Primeiro Cornish os asfixiava e os deixava mortos por dez minutos. Daí, ele tentava ressuscitá-los. As primeiras duas tentativas falharam, mas os números 3 e 4 foram um sucesso. Com um latido fraco e choroso, os cachorros voltaram à vida. Mesmo cegos e com graves danos cerebrais, eles viveram por meses em sua casa como bichos de estimação, provocando terror em outros cães.
A pesquisa de Cornish provocou tamanha controvérsia que a Universidade da Califórnia acabou mandando-o para fora do campus. Ele continuou seu trabalho em uma cabana feita junto a sua casa, apesar das reclamações dos seus vizinhos pela fumaça misteriosa que estava descascando a pintura das casas.
Muitos anos depois, em 1947, Cornish anunciou estar pronto para aplicar sua experiência em humanos. Ele agora tinha uma nova arma em seu arsenal, uma máquina cardio-pulmonar feita com peças de um aspirador de pó, um radiador, uma roda de ferro, cilindros e 60 mil pecinhas de metal, como aqueles ilhós para passar o cordão de sapato.
Thomas McMonigle, um prisioneiro que esperava pela execução no corredor da morte, tornou-se, voluntariamente, a cobaia, e Cornish pediu autorização ao governo do estado da Califórnia para prosseguir com sua experiência. Depois de alguma discussão, os órgãos responsáveis recusaram a oferta do cientista.
Aparentemente eles ficaram preocupados que, se McMonigle voltasse á vida, eles teriam que libertá-lo. Desapontado, Cornish voltou para sua casa, onde viveu o resto de sua vida vendendo uma pasta de dente que ele havia criado.
9 – O homem-cobaia
Até onde você iria para provar seu ponto de vista? Stubbins Ffirth, um médico em treinamento que viveu na Filadélfia no começo do século 19, foi mais longe do que muitos. Tendo observado que a febre amarela causava tumulto durante o verão e desaparecia no inverno, ele supôs que a doença não era contagiosa. Acreditava que o que causava a doença eram estimulantes como o calor, a comida e o barulho. Para provar seu palpite, Ffirth se colocou como cobaia.
Começou fazendo uma pequena incisão em seu próprio braço e colocando dentro do corte “vômito negro fresco”, obtido de um paciente com febre amarela. Ele não ficou doente.
Mas o médico e pesquisador não parou por aí. Ele pingou o negócio em seus olhos. Encheu uma sala aquecida com “vapores de regurgitação” (uma sauna de vômito) e permaneceu ali por mais de duas horas. Fora uma grande dor de cabeça e náuseas, ficou bem.
Depois, Ffirth começou a ingerir o vômito, em pequenas quantidades, em pílulas ou diluído em água. Finalmente juntou coragem e engoliu vômito puro, direto da boca de um paciente. Mesmo assim não ficou doente. Ffirth fechou seu experimento se lambuzando com outros fluidos maculados pela febre amarela: sangue, saliva, suor e urina. Mais saudável do que nunca, declarou sua hipótese provada em sua tese de 1804.
Ele estava errado. A febre amarela, como agora sabemos, é altamente contagiosa, mas requer transmissão direta para dentro da corrente sanguínea, geralmente por um mosquito, para causar a infecção.
10 -Sono pertubado
Algumas pessoas dormem mesmo com o mundo caindo. Mas isso só vale no caso de pessoas já adormecidas. Em 1960, Ian Oswald, da Universidade de Edimburgo, imaginou a quantos estímulos podemos expor uma pessoa adormecida sem que ela acorde. Seria possível cair no sono com os olhos abertos?
Oswald deitou seus voluntários em um sofá e prendeu seus olhos de forma que não conseguissem fechálos. Em frente a eles colocou uma luz piscando, da qual não podiam desviar o olhar. Eletrodos nas pernas davam choques dolorosos. Como toque final, um blues em volume alto tocava na orelha deles.
Dos três voluntários, um estava severamente privado de sono, mas os outros estavam completamente descansados. Não fez diferença nenhuma. Apesar dos choques, luzes, música e olhos abertos, um eletroencefalograma mostrou que os três homens estavam dormindo em 12 minutos (“British Medical Journal”, 14 de maio de 1960, pág. 1.450).
Oswald analisou suas descobertas cuidadosamente. “Houve uma queda considerável na vigilância cerebral e um grande declínio no auxílio predominante da formação reticular do tronco para o córtex cerebral.” Os homens foram mais diretos. Disseram que sentiram como se tivessem tirado uma soneca.
Oswald especulou se a chave não está na natureza monótona do estímulo. Apresentado a tal monotonia, ele sugeriu, o cérebro cai em uma espécie de transe. Isso pode explicar por que é tão fácil adormecer enquanto você dirige por uma estrada vazia.
O quanto isso vai ajudar quando o sono enganá-lo enquanto você estiver preso em um vôo noturno é outra questão. Pedir ao bebê sentado na fileira de trás para chorar ritmadamente provavelmente não vai ter o mesmo efeito que aquele conseguido durante a pesquisa.