Se torna difícil a definição de um quadro geral dos efeitos agudos e crônicos do uso de cannabis pois cada pesquisador enfatiza em um aspecto fisiológico diferente e, além disso, muitos estudos diferentes se contradizem. Por isso cumprem um papel importante os artigos de revisão, que analisam os diferentes artigos e unificam seus resultados. Os efeitos da maconha no funcionamento executivo do cérebro é bastante discutido na literatura e abaixo falaremos sucintamente dos efeitos agudos e crônicos discutidos na literatura especializada.
Nos estudos realizados sobre os efeitos agudos foram encontrados resultados relacionando os prejuízos a dois aspectos diferentes do funcionamento executivo: o controle inibitório, ligado à impulsividade e ao planejamento. O controle inibitório é um processo que objetiva suprimir influências internas ou externas que possam interferir na ação em curso. Memórias sensoriais ou motoras e estímulos distratores são impedidos de alterar a estrutura global da ação decorrida no tempo. O planejamento requer capacidade conceitual e de abstração, capacidade de organizar passos em seqüência, gerar alternativas e fazer escolhas. Os efeitos agudos se mostram dose-dependentes e passíveis de desenvolvimento de tolerância por parte do usuário. Usuários mais experientes têm o seu funcionamento executivo menos alterado em relação a usuários eventuais, não sofrendo prejuízos significativos.
Quanto aos efeitos crônicos, a base de dados disponíveis ainda não é suficientemente clara para afirmarmos sobre tais efeitos no funcionamento executivo do cérebro. Muitos estudos mostram que ocorre uma perda da atenção durante a realização de tarefas. Outros estudos mostram que os pacientes também são afetados ao realizarem testes de memória e deficiências na fluência verbal. Além disso pode ocorrer o desenvolvimento da chamada síndrome amotivacional, na qual o usuário não se sente motivado a realizar suas tarefas diárias. Outro fator que pode ser afetado é a flexibilidade mental, ou seja, a capacidade do indivíduo em mudar ou manter um comportamento a partir de um feedback do ambiente. Ou seja, não se pode determinar se este prejuízo é devido a efeitos residuais da maconha no cérebro ou se está relacionado à síndrome de abstinência.
Existem alguns estudos que avaliaram o efeito residual do uso crônico de maconha, ou seja, se mesmo após um período de abstinência os prejuízos continuam ou se estão relacionados com o uso recente da droga. O resultado encontrado no maior número de casos foi que após 28 dias, não existiram diferenças significativas no desempenho de diferentes grupos de fumantes (fumantes pesados e fumantes leves) e não fumantes, levando à conclusão da reversibilidade dos efeitos crônicos. Além disso, fumantes mais experientes podem também criar sistemas de compensação e reduzir os efeitos prejudiciais da maconha, ou seja, outras partes do cérebro são ativadas no sentido de suprir a demanda que seria de responsabilidade de uma outra parte do órgão principal do corpo humano.
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